Jorge Fernandes
27 de abril de 2021 em 06:58- Responder
Qual é o significado do dragão e de São Jorge?
Algumas considerações extraídas do texto de Leonardo Boff é teólogo, filósofo, pesquisador e escritor.
Sabemos que a figura do dragão é um tema recorrente em várias culturas, com significados até opostos. Assim no Ocidente é negativo: representa o mal e o mundo ameaçador das sombras. No Oriente é positivo: é símbolo nacional da China, senhor das águas e da fertilidade. Entre os astecas era a serpente alada (Quezalcoatl), expressão de sua identidade cultural. Não raro os pobres entre nós dizem: “para me manter, tenho que matar um dragão por dia”, pois assim o exige a dureza da vida.
Muitos antropólogos e psicólogos que trabalham sobre o tema dos arquétipos, como Carlos Gustavo Jung, afirmam que o dragão representa uma das figuras transcultuais mais ancestrais da história humana. É a percepção de que a nossa identidade profunda, o nosso eu, não nos é dado simplesmente pelo fato de sermos humanos. Ele tem que ser conquistado numa luta diuturna, marcada por ameaças e lutas.
Cada um de nós carrega um dragão e um São Jorge dentro de si.
Isso é assim porque a nossa vida é sempre feita de luz e de sombras, do dia-bólico (aquilo que separa) e do sim-bólico (aquilo que une). Quem vai triunfar São Jorge ou o dragão? A luz ou a sombra? A nossa melhor parte ou a nossa parte pior? Ambas coexistem e sentimos a sua presença em cada momento: às vezes na forma e raiva ou de amor ou de violência ou de bondade e assim por diante.
É aqui que entra a importância de uma identidade forte, de um eu vigoroso, um São Jorge, que possa enfrentar as nossas sombras e maldades, o dragão, e fazer triunfar nossa parte melhor.
São Jorge é o que nos mostra como, nessa luta, podemos ser guerreiros e vencedores. Ele enfrentou o dragão: mostra a força do eu, da própria identidade, garantindo a vitória.
Por mais que lutemos e vençamos, o dragão está sempre aí nos espreitando. Ele nos acompanha. Mas ainda: é uma parte de nós mesmos, de nosso lado obscuro, mesquinho, menor que nos impede de sermos plenamente humanos. Mas também somos acompanhados por São Jorge que nos assiste na luta.
É interessante observar que em algumas representações, especialmente uma famosa de Barcelona (é seu patrono da Catalunha), o dragão aparece envolvendo todo o corpo de São Jorge. Numa gravura de Rogério Fernandes, artista brasileiro, o dragão aparece envolvendo o corpo de São Jorge; este o segura pelo braço colocando o rosto do dragão, nada ameaçador, na altura de seu rosto. É um dragão humanizado, formando uma unidade com São Jorge.
A pessoa que não renega o dragão, mas o mantem sob seu domínio consegue uma síntese feliz dos opostos presentes em sua vida. Deixa de se sentir dividido; encontrou a justa medida, pois alcançou a harmonização do eu e de sua identidade luminosa com o dragão sombrio, o equilíbrio dinâmico do consciente com o inconsciente, da luz com a sombra, da razão com a paixão, do racional com o simbólico, da ciência com a arte e da arte com a religião. Esta pessoa emerge como um ser humano mais rico, mais sereno, mais compreensivo, tolerante e compassivo, irradiando uma aura boa ao seu redor.
Importa reconhecer que o dragão amedrontador e o cavaleiro heroico São Jorge são duas dimensões de nós mesmos. Nosso desafio é fazer que São Jorge tenha a primazia e não deixe que o dragão nos derrote e tire o sentido e o gosto de viver.
Qual é o significado do dragão e de São Jorge?
Algumas considerações extraídas do texto de Leonardo Boff é teólogo, filósofo, pesquisador e escritor.
Sabemos que a figura do dragão é um tema recorrente em várias culturas, com significados até opostos. Assim no Ocidente é negativo: representa o mal e o mundo ameaçador das sombras. No Oriente é positivo: é símbolo nacional da China, senhor das águas e da fertilidade. Entre os astecas era a serpente alada (Quezalcoatl), expressão de sua identidade cultural. Não raro os pobres entre nós dizem: “para me manter, tenho que matar um dragão por dia”, pois assim o exige a dureza da vida.
Muitos antropólogos e psicólogos que trabalham sobre o tema dos arquétipos, como Carlos Gustavo Jung, afirmam que o dragão representa uma das figuras transcultuais mais ancestrais da história humana. É a percepção de que a nossa identidade profunda, o nosso eu, não nos é dado simplesmente pelo fato de sermos humanos. Ele tem que ser conquistado numa luta diuturna, marcada por ameaças e lutas.
Cada um de nós carrega um dragão e um São Jorge dentro de si.
Isso é assim porque a nossa vida é sempre feita de luz e de sombras, do dia-bólico (aquilo que separa) e do sim-bólico (aquilo que une). Quem vai triunfar São Jorge ou o dragão? A luz ou a sombra? A nossa melhor parte ou a nossa parte pior? Ambas coexistem e sentimos a sua presença em cada momento: às vezes na forma e raiva ou de amor ou de violência ou de bondade e assim por diante.
É aqui que entra a importância de uma identidade forte, de um eu vigoroso, um São Jorge, que possa enfrentar as nossas sombras e maldades, o dragão, e fazer triunfar nossa parte melhor.
São Jorge é o que nos mostra como, nessa luta, podemos ser guerreiros e vencedores. Ele enfrentou o dragão: mostra a força do eu, da própria identidade, garantindo a vitória.
Por mais que lutemos e vençamos, o dragão está sempre aí nos espreitando. Ele nos acompanha. Mas ainda: é uma parte de nós mesmos, de nosso lado obscuro, mesquinho, menor que nos impede de sermos plenamente humanos. Mas também somos acompanhados por São Jorge que nos assiste na luta.
É interessante observar que em algumas representações, especialmente uma famosa de Barcelona (é seu patrono da Catalunha), o dragão aparece envolvendo todo o corpo de São Jorge. Numa gravura de Rogério Fernandes, artista brasileiro, o dragão aparece envolvendo o corpo de São Jorge; este o segura pelo braço colocando o rosto do dragão, nada ameaçador, na altura de seu rosto. É um dragão humanizado, formando uma unidade com São Jorge.
A pessoa que não renega o dragão, mas o mantem sob seu domínio consegue uma síntese feliz dos opostos presentes em sua vida. Deixa de se sentir dividido; encontrou a justa medida, pois alcançou a harmonização do eu e de sua identidade luminosa com o dragão sombrio, o equilíbrio dinâmico do consciente com o inconsciente, da luz com a sombra, da razão com a paixão, do racional com o simbólico, da ciência com a arte e da arte com a religião. Esta pessoa emerge como um ser humano mais rico, mais sereno, mais compreensivo, tolerante e compassivo, irradiando uma aura boa ao seu redor.
Importa reconhecer que o dragão amedrontador e o cavaleiro heroico São Jorge são duas dimensões de nós mesmos. Nosso desafio é fazer que São Jorge tenha a primazia e não deixe que o dragão nos derrote e tire o sentido e o gosto de viver.